Pr. David J. Merkh
"Longe de vós toda a amargura, e cólera, e
ira, e gritaria...Antes, sede uns para com os outros benignos, compassivos,
PERDOANDO-VOS UNS AOS OUTROS, COMO TAMBÉM DEUS EM CRISTO VOS PERDOOU." (Ef
4.31,32)
De todas as tempestades que assolam a
família atualmente, talvez nenhuma seja responsável por mais destruição que as
mágoas. As mágoas representam ira não-resolvida. Quase sempre envolvem as
pessoas mais próximas de nós. Enquanto nos indignamos quando ouvimos de
tragédias acontecendo a pessoas em outras partes do planeta (terrorismo,
genocida, etc.) normalmente não guardamos mágoas contra os vilões. A pessoa
magoada experimenta ira contínua, fervendo um pouco abaixo da superfície da sua
vida, uma ferida aberta e podre que tempo nunca cura. Talvez ela fique
adormecida por um tempo, mas até que seja drenada do seu veneno fatal pelo
poder curador da cruz de Cristo, mata a pessoa física e espiritualmente os
poucos. As mágoas corrompem as fontes da vida.
O primeiro passo para libertação das
mágoas é identificar nossa ira. Mas para alguns, não é muito “espiritual”
admitir a ira. Por isso, usamos outros termos para descrever o que a Bíblia
identifica, sim, como “ira”: “frustração”, “tristeza”, “decepção”, etc. (Ef
4.26,27,31).
Deus nos chama para uma vida de perdão, o
mesmo tipo de perdão que Cristo nos ofereceu pela Sua morte na cruz. Somente
Cristo Jesus,vivo em nós, será capaz de transformar mágoas em perdão.
Conselheiros bíblicos apontam para o fato de que a
raiz de ira crônica (mágoa) muitas vezes é uma questão de nós não recebermos o
que desejamos desesperadamente de outra pessoa ou situação. Esse desejo pode
ser tão intenso que se torna um ídolo em nosso coração, um objeto de adoração,
mais importante que Deus em nossa vida. Quando nosso desejo é bloqueado por
alguém, respondemos com ira, guardamos mágoas, procuramos vingança, fofocamos
ou odiamos essa pessoa que nos privou daquilo que achamos tão importante.
Se você se encontra irado por muito tempo
contra alguém, especialmente alguém da sua família de origem ou família atual,
reflita sobre essa questão: “O que eu desejava tanto, que fulano não me deu?” Por
exemplo, alguém que foi rejeitado pelos pais ou um cônjuge pode responder, “Eu
queria ser aceito.” Outra pessoa poderia responder, “Eu queria um pai presente,
que brincasse comigo e se interessasse por mim.” Outra pessoa, “Eu queria que
meu marido me tratasse como uma pessoa e não objeto”.
Nossa cultura de vitimização justifica ira e
mágoas como respostas a situações como essas—afinal de contas, realmente somos
vítimas. Mas uma cultura de vitimização nunca alcança vitória ou livramento da
escravidão de mágoas. E falha por não levar em consideração a vida de Cristo em
nós — Aquele que foi a maior Vítima de todos os tempos. Na cruz Ele exclamou, “Pai, perdoa-lhes, porque não
sabem o que fazem”(Lc 23.34)
Certamente não queremos minimizar ou negar o fato
de que muitos entre nós SOMOS vítimas. Mas afirmamos que, mesmo assim, somos
RESPONSÁVEIS pelas nossas respostas aos abusos que sofremos.
Em Mateus 18.21-35 Jesus contou a história
de um servo devedor que não podia pagar uma dívida que equivalia entre 260.000
e 360.000 QUILOS de metal precioso (talvez ouro)--uma quantia que demoraria
milhares de anos para quitar. O rei perdoou-lhe sua dívida, só para descobrir
que o servo ingrato lançou na cadeia um conservo que lhe devia o equivalente de
100 dias de serviço de um trabalhador comum.
A moral da história? Quando realmente
percebemos o tamanho da dívida que temos com Deus, TODAS as ofensas que pessoas
cometem contra nós, embora reais e difíceis, diminuem em comparação. A chave
está em reconhecer nossa própria dívida, e mergulharmos no amor e perdão que
nosso Rei nos estendeu.
Pessoas que ainda não reconheceram o verdadeiro
estado do seu coração, a profundidade do seu pecado, a miséria da sua alma
diante de Deus, muitas vezes têm dificuldade em perdoar outras pessoas os males
que lhes fizeram. Não entendem tamanha dívida que elas mesmas foram perdoadas
e, por isso, guardam mágoas contra essas pessoas.
Muitas vezes vivo grato pelo perdão, mas não
ao ponto de perdoar aos outros. Minha tendência é diminuir o tamanho da minha
dívida para com Deus, imaginando que sou capaz de pagá-la, quando de fato a
conta é impossível. Por isso, recuso perdoar aqueles que me magoaram. Guardo a
minha ira, e responsabilizo as pessoas por satisfazerem meus desejos.
Existe alguém que eu estou responsabilizando
por ter me ofendido, que eu mantenho como devedor? Guardo mágoas contra essa
pessoa?
Perdoar alguém que nos abusou, ofendeu,
machucou ou privou é impossível sem uma obra profunda de Jesus no coração. Só a
vida dEle em nós para perdoar do coração! Mas Ele prometeu nos capacitar para
fazer isso e muito mais.
Você realmente crê que Deus pode carregar a
sua dor? Sarar as feridas que você recebeu na jornada da vida? Pela graça e
pelo poder de Jesus, você pode confiar ao Pai aquele que fez de você uma vítima?
Viver livre da ira e das mágoas envolve um evento E UM PROCESSO. Muitas vezes
teremos de chegar a um ponto em que estendamos perdão “uma vez para sempre”
para alguém que nos ofendeu. Mas não significa que nunca mais seremos
inclinados a lembrar o que ele fez, com a possibilidade de todas as velhas
emoções voltarem como furação.
“Perdoar e esquecer”
soa melhor na teoria do que na prática. Para muitos é impossível esquecer de
eventos traumáticos em suas vidas. Mas podem, sim, “esquecer” no sentido bíblico quando escolhem não levar em conta as
ofensas do passado. É isso que a Bíblia quer dizer quando diz que Deus “esquece” de alguma coisa. Ele não deixa
de ser Deus, tendo uma memória fraca. Mas Ele decide nunca mais levar em conta
nosso pecado (Sl 103.10, 12). Por isso, talvez tenhamos de passar pelo processo
de perdão em nosso coração repetidas vezes, escolhendo cada vez pela fé não
mais responsabilizar a pessoa pelo seu pecado, morrendo momento após momento ao
“direito” de vingança, e estendendo o amor e perdão de Cristo.
Também é importante lembrar que o perdão pode
ser unilateral, quer dizer, podemos perdoar da nossa parte sem que a outra
pessoa peça perdão, reconheça seu erro, ou aceite o perdão. Não importa tanto
quanto o fato de que estendamos para ela o perdão como Cristo fez por nós.
Passos para o Perdão
O que fazer se descubro ira e mágoa em
meu coração? Os “passos para o perdão” que seguem já ajudaram muitas pessoas a
encontrar alegria, paz e liberdade da escravidão das mágoas. Lembre-se de que
esses passos são somente parte de um processo. Não representam uma “fórmula
mágica”, mas uma expressão de princípios bíblicos sobre o perdão.
1. Identificar as ofensas específicas que a
outra pessoa cometeu contra mim.
2. Arrependa-se do seu próprio pecado,
confessando-o a Deus.
3. Conte o custo de não perdoar.
4. Veja a pessoa que você está perdoando pela
perspectiva divina.
5. Ore pela pessoa que você está perdoando.
6. Libere as ofensas que a pessoa cometeu contra
você, e cancele a dívida dele(a).
7. Reconstrua relacionamentos, dentro do possível
(e sábio).
Talvez não seja possível voltar o tempo e
reconstruir o relacionamento como era antes. Mas há passos concretos que podem
ser tomados, tanto
quanto depender de você (Rm 12.18), para reconstruir o relacionamento.
*Artigo adaptado e usado com permissão do caderno Enfrentando Tempestadesda série Construindo um Lar Cristão, David J. e Carol Sue Merkh, Ralph e
Ruth Reamer (SP: Editora Hagnos). Extraído do site: www.palavraefamilia.org.br